Dois sucessos empresariais no furacão do 25 de Abril
REINVENÇÃO. Na revolução portuguesa de 1974, o pragmatismo de dois empresários marcou a diferença. Américo Amorim e Luís Silva não rejeitaram os ventos socialistas que se aproximavam. Bem pelo contrário, levaram as suas empresas a negociar com os países socialistas, enquanto muitos empresários fugiam de Portugal e de Angola. Em comum, os dois cruzaram negócios com Isabel dos Santos.
Foi sem medo, sem pânicos e com vontade de não fugir de Portugal que dois empresários portugueses, Américo Amorim e Luís Silva, enfrentaram a Revolução e o golpe de Estado a 25 de Abril de 1974. Uma data em que se assinalou mais um aniversário esta semana.
A queda do regime fascista significou para muita gente o fim de um mar de privilégios, em várias frentes, sobretudo empresariais.
Muitos empresários fugiram de Portugal, uns logo a seguir à substituição do chefe do governo, na altura, Marcelo Caetano. Outros no decorrer de 1974 até Novembro.
Mas não todos. Os ventos da História iam indicando que Portugal poderia passar de um regime fascista para uma governação socialista, muito próxima do marxismo-leninismo. As colónias portuguesas, em breve, iriam ser independentes. O Partido Comunista Português (PCP) dominava o espectro político. Dirigentes comunistas e socialistas saíram das cadeias políticas ou do exílio para assumir as rédeas do país. Daí que, uma das primeiras medidas diplomáticas, tenha sido o reatar das relações com a União Soviética, o 'farol' do comunismo no mundo.
O rumo que Portugal estava a levar não agradava aos empresários. Alguns viram as suas empresas nacionalizadas, outros anteciparam-se e fugiram para o Brasil, mas também para a Venezuela, Canadá e outros destinos. Os que tinham negócios em Angola também começaram a fugir, levando tudo o que podiam. Mas estes, tal como os que viviam em Moçambique, optavam primeiro pela África do Sul, país amigo de Portugal colonial, e depois pelo Brasil.
Com sinal precisamente contrário, surgem dois empresários, de dimensões diferentes, mas com um pensamento igual: seguir a onda, ser pragmático.
Luís Silva, militar, detinha uma pequena distribuidora de filmes, a Lusomundo, em 1974. Cedo percebeu onde poderia desenvolver o negócio. Como o país começava a inclinar-se para o Leste europeu, o mundo socialista, Luís Silva passou a comprar filmes nas antigas União Soviética e Checoslováquia. Além de os distribuir nas salas de cinema, ele próprio exibia-os nos seus espaços. Foi assim, por exemplo, que Portugal assistiu ao célebre 'Couraçado Potenkim", do russo Serguei Eisenstein e outros filmes semelhantes a glorificar os feitos dos países socialistas.
Com a estratégia de gestão, Luís Silva salvou a empresa, cresceu de tal forma que, anos depois, detinha o monopólio da distribuição de filmes, era proprietário de dezenas de salas de cinema, comprou órgãos de comunicação social e conseguiu ter uma participação na 'gigante' Portugal Telecom (PT). Depois do sucesso, vendeu a participação e a Lusomundo deu lugar hoje à NOS, empresa fundada pela angolana Isabel dos Santos.
Em 1974, Américo Amorim já era um empresário poderoso, herdeiro de uma fortuna construída com a cortiça e cujos empreendimentos iniciais remontavam a 1870. Com mais sete irmãos, aos 19 anos, o jovem Américo herdou 2,5% por cento de uma fábrica que se dedicava a produzir rolhas para garrafas de vinho do Porto. Formou-se entretanto numa escola de comércio. Com os irmãos, fundou a Corticeira Amorim que, mais tarde, deu lugar à Ipocork e à Champcork. e posteriormente à 'holding Amorim.
Quando se dá o golpe de Estado em Portugal, Américo Amorim já estava a direccionar a empresa para a exportação, em especial, para a Europa e EUA. Com a mudança de governo, não teve dúvidas em virar a agulha: passou a vender para a União Soviética e países socialistas. Simultaneamente, apostou em colaborar com as cooperativas do Alentejo, a sul do país, e ideologicamente influenciadas pelo PCP.
O negócio correu tão bem que a Corticeira Amorim ainda mantém a exportação para o Leste europeu, além de outros mais de 120 destinos. Alargou os negócios para outras áreas, entre elas, a banca, retalho, turismo e finanças, fazendo, nalguns casos, sociedade com... Isabel dos Santos. Por exemplo, é accionista do Banco BIC.
Em 201o, entrou na lista da revista Forbes como o homem mais rico de Portugal, ultrapassando Belmiro de Azevedo. Foi ainda embaixador honorário da Hungria, no tempo em que o país era socialista. Morreu, aos 82 anos, em 2017, com problemas no coração ostentando o título do português mais rico.
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